Faz 13 dias que um quarteto de dirigentes sindicais está acampado numa sala de reuniões na sede da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), em protesto contra a terceirização generalizada na empresa, responsável por seis mortes recentes e diversos acidentes de trabalho.
O grupo aguardava o início de uma rodada de negociação com a empresa, no último dia 4, quando recebeu a notícia de mais uma morte por eletrocussão, ocorrida havia pouco. Neste ano, aquela era a sexta morte na manutenção da rede elétrica da Cemig. Impactados, e já fartos da longa espera por iniciativas concretas que apontem para o fim da terceirização na empresa, os quatro decidiram iniciar a ocupação.
“Estamos determinados a só sair daqui com um acordo selado que aponte uma estratégia de primarização”, garante Jefferson Silva, coordenador-geral do Sindieletro-MG (Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais) e um dos acampados. Primarização é o processo de substituição de terceirizados por contratados diretos.
O então candidato a governador Fernando Pimentel (PT) prometeu em sua campanha, ano passado, que daria início ao fim das terceirizações na Cemig, tendo como ponto de partida a efetivação de 1,5 mil aprovados em concurso. Até o momento, nada.
A Cemig tem histórico negativo nessa área. Em julho de 2013, foi flagrada por manter 179 trabalhadores terceirizados em regime análogo à escravidão, no governo de Antonio Anastasia (PSDB). Durante a primeira década dos anos 2000, liderou a lista de acidentes e mortes no setor, de acordo com levantamentos da Fundação Coge (Comitê de Gestão Empresarial). Atualmente, o quadro operacional é composto por 18 mil terceirizados e seis mil contratados diretamente pela estatal.
Negociação
Acampados com Jefferson estão Fábio Ferreira, Lúcio Parrela, Celso Primo e Marcelo Correia. A sala de 4m X 7m tem ar-condicionado de operação ininterrupta. Uma mesa retangular ocupa quase toda a área. As famílias e os companheiros e companheiras de sindicato levam marmitex todos os dias. Nada de bebida alcoólica, sequer cerveja, garante Jefferson. “Nosso objetivo é maior que isso. Estamos muito convictos do que estamos fazendo, então nossa energia e disciplina vêm da solidariedade da nossa categoria”.
Mauro Borges, atual presidente da Cemig, tem negociado com o quinteto. “Ele já veio aqui, e está disposto a implementar um processo de primarização. Mas a ideia enfrenta resistências de um corpo de assessores e superintendentes que são de gestões passadas, com forte pensamento neoliberal, privatista”, conta o coordenador-geral do Sindieletro-MG.
Amanhã, o sindicato realiza a segunda edição da Quarta-Feira Vermelha, com trabalhadores e trabalhadoras fazendo manifestações em diversas unidades da empresa.
Os energéticos – nome que a categoria aplica a si mesma, em lugar do antigo termo eletricitários – de Minas estão em campanha salarial. Da pauta de reivindicações constam cláusulas econômicas, como salário e PLR, mas este ano a principal bandeira da campanha é o fim das terceirizações. A exemplo dos petroleiros, que fizeram greve pela retomada dos investimentos públicos na Petrobras, os trabalhadores da Cemig querem o fortalecimento da estatal.
Terceirização e mortes
O Sindicato cobra da Cemig e do governo estadual não só a primarização dos trabalhadores de manutenção de rede, mas também do atendimento ao consumidor, com a reabertura das agências físicas. Isso vai melhorar a qualidade do serviço e diminuir drasticamente o número de mortos e feridos, garante o Sindieletro.
Os números apontam nessa direção. Entre 2001 e 2014, 87 profissionais morreram a serviço da Cemig. 83% deles eram terceirizados. A assessoria do Sindicato informa que o tempo de formação de um profissional de manutenção é de dois anos, quando se torna apto a lidar com a chamada linha viva – alta tensão. Os terceirizados, com dois ou três meses de casa, são enviados a campo.
Fonte:www.cut.org.br