13 dias acampados na Cemig contra as terceirizações

17/11/2015 - 17:10

Quarteto de dirigentes sindicais cutistas promete não sair sem acordo que aponte contratação de concursados e combate às mortes em serviço

Faz 13 dias que um quarteto de dirigentes sindicais está acampado numa sala de reuniões na sede da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), em protesto contra a terceirização generalizada na empresa, responsável por seis mortes recentes e diversos acidentes de trabalho.

O grupo aguardava o início de uma rodada de negociação com a empresa, no último dia 4, quando recebeu a notícia de mais uma morte por eletrocussão, ocorrida havia pouco. Neste ano, aquela era a sexta morte na manutenção da rede elétrica da Cemig. Impactados, e já fartos da longa espera por iniciativas concretas que apontem para o fim da terceirização na empresa, os quatro decidiram iniciar a ocupação.

“Estamos determinados a só sair daqui com um acordo selado que aponte uma estratégia de primarização”, garante Jefferson Silva, coordenador-geral do Sindieletro-MG (Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais) e um dos acampados. Primarização é o processo de substituição de terceirizados por contratados diretos.

O então candidato a governador Fernando Pimentel (PT) prometeu em sua campanha, ano passado, que daria início ao fim das terceirizações na Cemig, tendo como ponto de partida a efetivação de 1,5 mil aprovados em concurso. Até o momento, nada.

A Cemig tem histórico negativo nessa área. Em julho de 2013, foi flagrada por manter 179 trabalhadores terceirizados em regime análogo à escravidão, no governo de Antonio Anastasia (PSDB). Durante a primeira década dos anos 2000, liderou a lista de acidentes e mortes no setor, de acordo com levantamentos da Fundação Coge (Comitê de Gestão Empresarial). Atualmente, o quadro operacional é composto por 18 mil terceirizados e seis mil contratados diretamente pela estatal.

Negociação

Acampados com Jefferson estão Fábio Ferreira, Lúcio Parrela, Celso Primo e Marcelo Correia. A sala de 4m X 7m tem ar-condicionado de operação ininterrupta. Uma mesa retangular ocupa quase toda a área. As famílias e os companheiros e companheiras de sindicato levam marmitex todos os dias. Nada de bebida alcoólica, sequer cerveja, garante Jefferson. “Nosso objetivo é maior que isso. Estamos muito convictos do que estamos fazendo, então nossa energia e disciplina vêm da solidariedade da nossa categoria”.

Mauro Borges, atual presidente da Cemig, tem negociado com o quinteto. “Ele já veio aqui, e está disposto a implementar um processo de primarização. Mas a ideia enfrenta resistências de um corpo de assessores e superintendentes que são de gestões passadas, com forte pensamento neoliberal, privatista”, conta o coordenador-geral do Sindieletro-MG.

Amanhã, o sindicato realiza a segunda edição da Quarta-Feira Vermelha, com trabalhadores e trabalhadoras fazendo manifestações em diversas unidades da empresa.

Os energéticos – nome que a categoria aplica a si mesma, em lugar do antigo termo eletricitários – de Minas estão em campanha salarial. Da pauta de reivindicações constam cláusulas econômicas, como salário e PLR, mas este ano a principal bandeira da campanha é o fim das terceirizações. A exemplo dos petroleiros, que fizeram greve pela retomada dos investimentos públicos na Petrobras, os trabalhadores da Cemig querem o fortalecimento da estatal.

 

Terceirização e mortes

 

O Sindicato cobra da Cemig e do governo estadual não só a primarização dos trabalhadores de manutenção de rede, mas também do atendimento ao consumidor, com a reabertura das agências físicas. Isso vai melhorar a qualidade do serviço e diminuir drasticamente o número de mortos e feridos, garante o Sindieletro.

Os números apontam nessa direção. Entre 2001 e 2014, 87 profissionais morreram a serviço da Cemig. 83% deles eram terceirizados. A assessoria do Sindicato informa que o tempo de formação de um profissional de manutenção é de dois anos, quando se torna apto a lidar com a chamada linha viva – alta tensão. Os terceirizados, com dois ou três meses de casa, são enviados a campo.

Fonte:www.cut.org.br