Em 11 de maio de 2016, um dia antes de Dilma Rousseff ser afastada da Presidência da República, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da polícia de São Paulo prendeu o telhadista Silvonei José de Jesus Souza. A operação ocorreu apenas um mês depois de o então secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, agora nomeado para o Supremo Tribunal Federal (STF), ser informado da ação de um hacker que ameaçava Marcela Temer, mulher de seu amigo Michel.
Souza clonara o celular da primeira-dama e desde abril daquele ano tentava ganhar dinheiro com ameaças de divulgar certas imagens e mensagens. O caso foi noticiado sem alarde na época, com ênfase na hipótese de que o hacker pretendia tornar públicas fotos íntimas de Marcela.
Na Justiça, o processo também correu rápido para os padrões brasileiros. Em outubro, apenas seis meses depois da abertura do inquérito, Souza estava condenado a mais de cinco anos de reclusão em regime fechado, uma sentença que deixou seu advogado “chocado”. "Por ele ser de baixa periculosidade, deveria ser regime aberto ou semiaberto", disse Valter Bettencort Albuquerque ao portal G1 em 26 de outubro.
Na sentença em que a juíza Eliana Cassales Tosi de Mello condena o hacker, há pistas de que a chantagem não tivesse ligação apenas com fotos íntimas da primeira-dama. Talvez, as informações obtidas pelo criminoso revelassem uma atuação mais explícita de Temer para tomar o lugar de Dilma.
Em 16 de abril, um dia antes de a Câmara abrir o processo de cassação da petista, Souza ligara para Marcela e dissera que ela ainda poderia recuperar seus dados antes do impeachment, se pagasse.
Em troca de mensagens pelo Whatsapp, escrevera a Marcela: “Instalei um antivírus e quando reiniciou o meu PC la (sic) estava a pasta com suas fotos vídeos e arquivos pessoais”.
E prossegue: “Pois bem como achei que esse vide-o (sic) joga o nome de vosso marido na lama, quando você disse q ele tem um marqueteiro q faz a parte baixo nível... pensei em ganhar algum com isso!” E mais: “Tenho uma lista de repórteres que oferecem 100 mil cada pelo material que somente comentei por texto.. o que tem no vídeo”.
Detalhe: em 11 de abril, um mês antes da prisão do hacker, viera a público, supostamente por erro de Temer, um áudio com ele a falar como se já fosse presidente da República.
A história voltou à tona na sexta-feira 10, com a divulgação dos detalhes do caso por diversos veículos da imprensa, inclusive da real ameaça do hacker a Marcela.
O caso incomoda o Palácio do Planalto. Advogados de Temer entraram na Justiça para barrar reportagem da Folha de S. Paulo, jornal que publicou matéria sobre o caso em seu site no fim da tarde de sexta.
Fonte: www.cartacapital.com.br