O empresário Nelson Tanure, dirigente do Fundo Société Mondiale, acionista relevante da Oi, diz ser necessária a adoção de um pequeno aditivo ao plano de recuperação da empresa. “Não existe investimento ou reestruturação da dívida capaz de equilibrar a Oi sem que haja uma mudança completa e estrutural da Lei Geral de Telecomunicações”, afirma. Segundo ele, a diversidade da equipe de colaboradores da Oi e a sua grande capacidade de trabalho serão os grandes propulsores da construção de uma nova identidade. “É nisso que acreditamos há um ano, quando comecei a estudar a empresa. A Oi é do tamanho do Brasil e tem pressa em sair da recuperação judicial, voltando à liderança de mercado”, afirma.
“A empresa está viva e salva, porque tem pessoas de primeira categoria”, repetiu o empresário o que falou na Assembleia da Oi, em julho do ano passado.
Tanure, que tem o apoio de grandes fundos internacionais dispostos a fazer investimentos economicamente viáveis na companhia da ordem de bilhões de dólares, acrescentou que é preciso suspender a distribuição de dividendos pelo período mínimo de 5 anos e que todo o caixa livre gerado seja investido na modernização e em melhorias de sua rede (ativo fundamental da Oi).
“Nossas propostas contam com o trabalho colaborativo de todos os funcionários da Oi e de suas subsidiárias, dos entes públicos e privados e exigem sacrifícios de todos. Elas permitem que uma nova Oi seja erguida em bases sólidas e sustentáveis”, declara Tanure.
Por que o senhor decidiu investir na Oi, uma companhia altamente endividada e prestes a entrar com pedido de recuperação judicial?
Acredito na Oi. Estudamos a companhia há um ano e conhecemos a fundo seu enorme potencial. A Oi enfrenta hoje uma crise passageira causada, em grande parte, por uma série de aquisições equivocadas dentro do plano de ser uma campeã nacional, anos de descaso, carência de investimentos e foco exclusivo na distribuição de dividendos. Temos completa confiança de que a Oi, com investimentos sustentáveis, pode superar esta crise e conquistar novamente a posição de destaque no mercado que ela merece. Os colaboradores são parceiros, dedicados, que não se desanimam diante das intempéries. É fácil ser otimista em meio à bonança. O difícil é manter a serenidade em momentos de maior dificuldade. Por isso, tenho total confiança no atual grupo que trabalha e comanda a Oi, em sua sede no Rio, e em todos os estados do país.
A Oi será a empresa de Telecom mais moderna do Brasil em menos de 5 anos.
Como empreendedor, tenho ampla experiência na recuperação de companhias em dificuldade no Brasil, atuando ou tendo já atuado no setor imobiliário, shiping, óleo e gás, mídia, engenharia e telecomunicações. O caso de sucesso da Intelig Telecomunicações em 2008 é uma excelente analogia à situação atual da Oi. A Intelig detinha uma dívida bilionária, rumores de falência eram frequentes e poucos acreditavam em sua recuperação. Todas as grandes empresas internacionais de telecomunicações, assim como diversos fundos, foram noticiados como potenciais compradores da Intelig, porém seus investimentos estavam sempre condicionados a contrapartidas do governo e a outras exigências e nada aconteceu. O meu grupo, que é um grupo brasileiro, foi o único que realmente estudou a fundo a situação da companhia buscando uma solução tanto para acionistas quanto para credores, o que permitiu a Intelig voltar a ser sustentável. Fomos capazes de tornar a companhia viável reequilibrando uma dívida bilionária e insustentável para algo viável e também adequado aos credores. Ato contínuo, introduzimos metas de gestão desafiadoras, trouxemos profissionais de alto calibre e, principalmente, valorizamos a prata da casa. Promovemos os melhores, mais capazes e, sobretudo, aqueles com fome de sucesso e disposição para trabalhar. Após quase uma década estagnada gerando prejuízo, a Intelig voltou a crescer e dar lucro. Finalmente a juntamos à TIM, o casamento perfeito entre uma operadora móvel com uma de telefonia fixa, o que permitiu à TIM recuperar o segundo lugar no mercado móvel brasileiro e triplicar seu valor de mercado.
Acompanhamos de perto a história da Oi desde sua privatização e acreditamos ser semelhante à da Intelig, o que nos entusiasma.
Quais são suas principais propostas para a recuperação da Oi?
Temos o apoio de grandes fundos internacionais, atuais acionistas ou não, notadamente norte-americanos e canadenses, dispostos a fazer novos investimentos na companhia da ordem de bilhões de dólares. Tais fundos possuem mais de U$ 200 bilhões sob gestão e acompanharam o nosso investimento inicial na companhia.
Destaco, porém, que não existe investimento ou restruturação de dívida capaz de equilibrar a Oi sem que haja uma mudança completa e estrutural no setor de Telecom no Brasil, cujos problemas vão desde uma lei ultrapassada a custos fiscais e tributários estratosféricos.
Portanto, é urgente a adoção de um plano de reestruturação.
Precisamos cessar, imediatamente, o sangramento anual bilionário que identificamos como excessos que podem ser cortados com eficiência, e de investimentos para melhoria na qualidade do serviço, reduzindo, por exemplo, o número de reclamações aos órgãos de defesa do consumidor e, consequentemente, os gastos com despesas judiciais.
Outro ponto importante é a otimização dos investimentos para que a Oi volte a crescer. Pretendemos implantar um novo um plano de longo prazo que dê prioridade às áreas de maior potencial e expectativa de retorno.
Especificamente sobre a operação da Oi, o que pode ser melhorado?
Analisamos a fundo os resultados da Oi, comparando-a com as médias da indústria e concluímos que podemos extrair o melhor dos atuais colaboradores. Os mais capazes subirão na estrutura, aqueles que possuem as melhores ideias e fome de vencer, não os que se habituaram a ganhar no grito. Adicionalmente, iremos incorporar profissionais com experiência em telecomunicações e em reestruturação de empresas, além de garantir a adoção das melhores práticas de governança.
Para citar alguns exemplos, a Oi paga um valor várias vezes superior pela utilização de sua rede submarina de transmissão de dados, que tempestivamente o Presidente Schroeder teve a corajosa decisão de enfrentar esse problema. Temos um book com mais de 200 páginas, analisando área por área da companhia, repleta de ações para o aumento de eficiência, no qual identificamos e damos prioridade a investimentos com foco na melhoria da rede.
Isso significa corte de pessoas?
Não, mais importante do que corte de pessoas é identificar os talentos internos para colocá-los nas posições corretas, onde poderão impactar mais o resultado da Oi. Essa é nossa prioridade. Estamos seguros quanto aos excelentes quadros técnicos, administrativos, comerciais etc. da companhia. Sabemos que as soluções para os problemas da empresa estão dentro de casa. Precisamos encontrar as pessoas certas. Os melhores e mais capazes irão prevalecer independentemente de tempo de casa, networking e senioridade. Tenho total confiança na atual equipe da Oi.
Sim, a empresa está atravessando uma fase que demanda muito esforço, suor, parcimônia e colaboração. É preciso cortar custos urgentemente, e isso implica alguns ajustes, claro. Porém, essa questão merece coerência e cautela, pois a Oi emprega direta e indiretamente cerca de 140 mil pessoas que não devem pagar pela má gestão de poucos executivos.
O senhor mencionou que a companhia precisa do esforço de todos. E qual será contrapartida dos acionistas? Qual será o esforço deles?
Propomos que a companhia não distribua dividendos pelo período mínimo de 5 anos, e que todo o caixa livre gerado seja investido na modernização e em melhorias de sua rede. Os principais ativos serão mantidos e modernizados, tanto a rede fixa de abrangência nacional quanto a operação de telefonia móvel. Nossa proposta é buscar sócios separadamente para determinadas áreas de negócio, incluindo a criação de novas subsidiárias, com a possibilidade de um IPO em mercado. Além de vender os ativos na África, que não são estratégicos para o futuro da companhia.
Adicionalmente, a mudança na Lei Geral de Telecomunicações poderá gerar uma economia muito relevante em cinco anos com o novo regime. Com isso, será possível fazer com segurança grandes investimentos em tecnologia, e, ao mesmo tempo, a empresa ficará desobrigada de aportar recursos em segmentos que ficaram anacrônicos, como a instalação de TUP’s (orelhões). Estes orelhões serão transformados em Wi-Fi Zones, como acontece em muitas cidades nos Estados Unidos e Europa. Há inúmeras oportunidades que se abrem com a Nova Oi, focada em tecnologia e em um atendimento primoroso. Vamos criar parcerias com as novas mídias e, ao mesmo tempo, atrair grandes fundos de investimentos àquelas subsidiárias que trazem valor à companhia.
Além da necessidade de reformas estruturais na companhia, um novo aporte de capital estaria condicionado a alguma concessão do governo ou dos demais credores em geral?
Não. Nenhum investimento nosso está condicionado a qualquer concessão do governo. Para que fique muito claro. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que temos uma visão de longo prazo para a Oi, algo fundamental em se tratando de investimentos em telecomunicações, que, além de demandar muito capital, possuem uma longa maturação. Esse aspecto faz toda a diferença.
Segundo, posso afirmar que já enfrentamos suficientes desafios para saber quais são superáveis, e o caso da Oi seguramente é um deles. Por esta razão, investimos na companhia, sem fazer qualquer tipo de exigência ao governo, e seguimos dispostos, nós e os grandes fundos internacionais que nos apoiam, a realizar investimentos adicionais da forma mais saudável para todos os envolvidos, ainda sem demandar nenhum tipo de concessão. Portanto, é fundamental encontrar um equilíbrio que, ao mesmo tempo, satisfaça os credores e permita à companhia investir em sua rede. Destaco novamente que o resultado operacional positivo é crucial para reequilibrar a companhia e evitar novo desperdício de capital.
Estamos confiantes de que este cenário é atingível e, atrelado a melhores margens operacionais, devolverá à Oi o destaque que ela merece ter no mercado brasileiro.
O senhor é muito conhecido por investir em companhias em dificuldade financeira e pela sua habilidade e experiência na negociação com credores. Qual, em sua visão, deve ser a abordagem correta?
A história da Oi é marcada por um incrível potencial não realizado devido, entre outros motivos, à falta de investimentos adequados em sua rede. Estes últimos anos de mau desempenho têm sido extremamente desgastantes para todos os envolvidos. Acionistas minoritários tiveram seu patrimônio destruído, credores viram seus títulos marcados a centavos refletindo um calote, colaboradores temem pelos seus empregos e todos acompanham a deterioração das finanças da companhia.
Acredito que chegou a hora da virada. Este é o momento de nos unirmos por meio de um diálogo construtivo para que a recuperação da Oi se inicie de fato. Já conversamos com diversos credores e chegamos a muitos pontos consensuais de um plano que seria benéfico para todos, sempre em prol da recuperação da Oi.
Temos o objetivo de alinhar todos os interesses em torno de um plano de longo prazo viável e seguiremos abertos a discuti-lo em detalhes com os demais stakeholders, sejam eles governo, credores, acionistas e colaboradores. Defendemos também o diálogo diretamente com a Anatel para equacionar a dívida que temos entre novos investimentos para melhoria dos serviços prestados e um parcelamento do saldo remanescente conforme prevê a lei. A companhia não está se eximindo de suas responsabilidades e, sim, apresentando uma solução que vai gerar benefícios para os consumidores. Ficamos felizes uma vez que muitas de nossas sugestões foram aproveitadas pela administração da companhia, sendo uma delas o pagamento imediato da dívida que a Oi tem com todos os pequenos fornecedores – o que, inclusive, fora autorizado pelo juiz da recuperação judicial através da mediação – e outra, um instrumento jurídico para mediação com grandes credores.
Nossas propostas contam com o trabalho colaborativo dos entes públicos e privados e exigem sacrifícios de todos, porém permitem que uma nova Oi seja erguida em bases sólidas e sustentáveis. A relevância deste desafio extrapola fronteiras corporativas ou setoriais, pois a Oi é uma das maiores empregadoras do Brasil e desempenha um forte papel no desenvolvimento econômico e social do país. Aproveitamos para lembrar que, embora em dificuldades financeiras, a Oi continua provendo serviços a escolas e hospitais e outros provedores de serviços públicos mesmo sem receber os pagamentos devido à crise financeira em que se encontram os estados da federação.
Qual a mensagem que o senhor daria aos 140 mil funcionários diretos e indiretos da Oi?
A Oi já possui o ativo mais importante para sua retomada, pessoas, seus talentos internos que serão identificados e promovidos para que possam fazer a diferença. Repito que as soluções para os problemas da companhia estão dentro de casa e nosso trabalho é identificá-las. Queremos pessoas focadas, comprometidas com o sucesso próprio e da Oi, com sangue nos olhos. As melhores ideias e os profissionais mais capazes vão liderar a retomada em todos os níveis da companhia, inclusive no Conselho de Administração. Repito que tempo de casa não será garantia de ascensão, e sim competência, capacidade e principalmente resultado.
Tenho total confiança em nosso plano e, repito, seguiremos abertos a discuti-lo com todos os interessados. Estou convencido de que a recuperação da Oi depende, no entanto,da imediata adoção das medidas expostas nesta entrevista. É preciso mudar o status quo, trabalhar com afinco e, sobretudo, com urgência!
A Oi é tão viável quanto o Brasil, que sempre resistiu a crises políticas ou econômicas. Tenho certeza de que a nossa economia voltará a crescer no segundo semestre. Prova disso é o ingresso de investimento direto estrangeiro, que permanece em níveis elevados, somando quase US$ 80 bilhões nos 12 meses encerrados em novembro de 2016. A diversidade da equipe de colaboradores da Oi e sua grande capacidade de trabalho serão o principal elemento propulsor da construção de uma nova identidade. É nisso que acreditamos há um ano, quando comecei a estudar a empresa. A Oi é do tamanho do Brasil e tem pressa em sair da recuperação judicial e voltar à liderança de mercado.
E depois da Oi, o que o senhor pretende fazer?
Em primeiro lugar, eu quero me concentrar por um longo período em ajudar na reconstrução da Oi e depois eu quero me dedicar em tempo integral à música clássica.
Fonte: www.jb.com.br