Manifesto do XIX Congresso Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão

27/06/2018 - 08:58

Os representantes dos 3,5 milhões de participantes ativos, aposentados e pensionistas manifestaram preocupação com o momento político e econômico brasileiro e com os rumos da previdência social...

                                                                 Brasília, 26 de junho de 2018

 

 

Manifesto do XIX Congresso Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão

 

Os representantes dos 3,5 milhões de participantes ativos, aposentados e pensionistas, reunidos no XIX Congresso Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão, no mês de maio deste ano, manifestaram grande preocupação com o momento político e econômico brasileiro e com os rumos da previdência social e complementar em nosso País.

Os direitos e conquistas dos trabalhadores brasileiros são eliminados sistematicamente, em uma demonstração clara de favorecimento aos grandes capitalistas e os ataques são direcionados diariamente, sobretudo, aos segmentos mais pobres da população. Uma das primeiras medidas implementadas pelo atual governo, com base em seu programa neoliberal “A Ponte para o Futuro”, foi o congelamento por 20 anos dos investimentos públicos na saúde, educação, moradia e nos gastos em programas sociais e áreas que atendem à população trabalhadora.

Em seguida foram aprovadas a reforma trabalhista e a terceirização irrestrita, medidas que precarizam as relações de trabalho e eliminam direitos históricos. Os resultados disso já são visíveis: o aumento do desemprego e a informalidade nas relações de trabalho, enquanto milhões de pessoas são empurradas para as ruas das cidades brasileiras para vender qualquer coisa que possa garantir a subsistência. Centenas de milhares de micro e pequenas empresas estão encerrando suas atividades por dificuldades financeiras e as grandes deixaram de investir por falta de perspectivas de crescimento.

Inúmeras empresas públicas estão sendo preparadas para a privatização. Correios, Petrobrás, Eletrobras, Caixa, Banco do Brasil e muitas outras estão na mira dessas políticas de redução do papel do Estado, que visam a atender aos interesses dos capitalistas, sobretudo do capital financeiro. Ao mesmo tempo, nossas maiores riquezas, tal como o petróleo do pré-sal, são entregues ao capital internacional e já se discute a entrega do Aquífero Guarani. Vale destacar que a previdência pública e complementar fechada também são alvos destes ataques, como parte da estratégia de desmonte do patrimônio público e de eliminação da capacidade do Estado de formular e implantar políticas públicas, planejar e definir os rumos da atividade econômica.

Na Argentina, após dois anos de execução de políticas de concepção neoliberal implantadas pelo presidente Maurício Macri para atender ao mercado, o país entrou em colapso e não tem capacidade de reagir aos ataques especulativos que estão quebrando a sua economia. Após o povo argentino ter vivido 12 anos de crescimento econômico, o país se vê agora de joelhos diante do Fundo Monetário Internacional (FMI), mendigando empréstimos de 30 bilhões de dólares para equilibrar as contas e poder pagar seus bilionários credores que especulam no mercado financeiro.

O Brasil, se não retomar urgentemente a trajetória do desenvolvimento, estará caminhando a passos largos rumo a esse mesmo cenário. Por isso, os signatários deste Manifesto se colocam contra a visão neoliberal corrosiva que impera nos poderes constituídos, cujo propósito é destruir direitos da classe trabalhadora em benefício dos empresários, reduzir salários e eliminar programas sociais. A retomada do crescimento torna-se cada vez mais difícil, face ao empobrecimento da população e aos altos índices de desemprego que comprometem a atividade econômica e o consumo de bens e serviços.

A previdência pública, alvo de constantes ataques pelo atual governo brasileiro para atender às demandas dos banqueiros interessados no crescimento da previdência aberta, foi preservada devido à forte mobilização da sociedade contra a reforma proposta, adiando sua tramitação no Congresso Nacional. Temer e seus aliados, no entanto, já falam em dar continuidade à reforma depois das eleições de outubro.

O governo não conseguiu ainda desmontar a previdência pública, mas acabou com o Ministério da Previdência e transferiu suas atribuições para o Ministério da Fazenda, deixando claro seu objetivo de tratar a previdência pública como uma questão financeira e não como mecanismo de proteção social aos trabalhadores, aposentados, pensionistas, pessoas com deficiência e incapacitados para o trabalho. Desobedece à Constituição Federal, retirando na prática a Previdência do capítulo da ordem social para incorporá-la ao da ordem econômica.

A previdência complementar também está sendo alvo de ataques sistemáticos, exigindo uma resposta firme em defesa dos direitos e interesses de todos os participantes e assistidos. Medidas já tomadas e projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional apontam para a redução do poder de gestão e fiscalização dos participantes, visando favorecer explicitamente aos bancos e seus planos abertos.

Repudiamos e continuaremos lutando contra a aprovação do PLP 268/2016, já aprovado no Senado Federal e em tramitação na Câmara dos Deputados. Esse projeto acaba com a eleição para diretores, reduz para 1/3 a representação dos participantes nos conselhos deliberativo e fiscal nas fundações e entrega ao mercado financeiro a gestão do patrimônio dos participantes e assistidos.

Com o argumento de implantar uma gestão “técnica e profissional” destrói conquistas de décadas, aumenta os riscos na gestão do patrimônio e transfere para os patrocinadores e para o mercado financeiro o controle sobre os investimentos, reduzindo o poder dos legítimos donos do patrimônio dos fundos de pensão. Também põem em jogo os direitos dos participantes, pois facilita alteração de estatutos e regulamentos de planos.

A esse projeto de lei que liquida a democracia conquistada com muita luta ao longo de anos se somam outros ataques aos participantes. A Previc passou por cima das leis complementares e da regulamentação votada no CNPC para alterar a certificação obrigatória para conselheiros e diretores, delegando a si própria à competência ilegal de impedir a posse de dirigentes de fundos de pensão, num claro atentado à democracia e à livre escolha dos participantes e dos patrocinadores.

A anunciada unificação dos dois órgãos fiscalizadores da previdência complementar fechada e aberta, a Previc e a Susep, respectivamente, sob o comando desta segunda, deixa claro que o objetivo do governo ilegítimo é favorecer os planos abertos dos bancos e seguradoras, em detrimento da previdência complementar fechada.

Atacam os fundos fechados para favorecer o mercado financeiro e abrir a possibilidade de transferir mais de R$ 800 bilhões de patrimônio dos participantes para a administração dos grandes bancos. O próprio texto da Reforma da Previdência autoriza os bancos a administrar os recursos dos planos de previdência dos servidores públicos.

O anunciado desmonte da previdência complementar fechada vai se concretizando. O Ministério da Fazenda assumiu as prerrogativas da elaboração de políticas para a previdência complementar e de comandar as atividades do Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) e da Câmara de Recursos da Previdência Complementar (CRPC).

Como era de se esperar, prevalece o viés financista em detrimento da proteção social prevista na Constituição. Os patrocinadores têm mais facilidade para alterar planos de previdência, reduzir direitos, alterar benefícios e implantar perversos equacionamentos de déficit. O reinado absoluto dos planos de contribuição definida com baixos níveis de contribuição patronal e benefícios reduzidos demonstram a falta de compromisso dos patrocinadores e do Estado com a proteção aos trabalhadores.

Repudiamos a concentração das concessões públicas dos veículos de imprensa a um seleto e reduzido grupo de empresários e combateremos a manipulação abusiva da informação.  Como associada do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), a Anapar, juntamente com seus associados, apoiará e divulgará as iniciativas de democratização da informação e pressionará os governos estaduais para aprovar a formação de uma rede de comunicação que tenha compromisso com uma programação libertadora e educativa.

 

Existem, hoje, pelo menos 20 milhões de antenas parabólicas no Brasil que podem dar ampla difusão a um jornalismo e programação de rede de comunicação alternativa formada por televisões e rádios educativas, que podem atuar de forma coordenada, praticando um jornalismo sintonizado com a verdade e com os princípios inscritos na Constituição. Para isso não é preciso aprovar nenhuma nova lei.

 

A formação desta rede depende apenas de decisão política, pois é prerrogativa dos governadores orientar a comunicação nas TVs e rádios educativas. Para isso é necessário que os governadores progressistas e comprometidos com a sociedade atendam e implementem a proposta apresentada no Encontro Nacional do FNDC em 2017, na Universidade de Brasília (UnB).

 

Repudiamos e lutaremos contra a intenção de se eliminar a representação dos trabalhadores em seus fundos de pensão, principalmente nesse momento em que as contribuições dos participantes são, no geral, superiores às dos patrocinadores o que, por si só, justificaria uma maior inserção dos participantes ativos, aposentados e pensionistas nos órgãos de gestão das entidades de previdência.

 

Diante dos fatos aqui relatados e com o objetivo de resistir aos ataques e preservar os direitos dos trabalhadores, os participantes presentes ao XIX Congresso tomam os seguintes posicionamentos:

  1. Continuaremos a luta contra a Reforma da Previdência que elimina direitos e fragiliza os mecanismos de proteção social aos trabalhadores.
  2. Lutaremos pela democratização dos fundos de pensão e pela paridade em todas as instâncias de decisão sem voto de qualidade.
  3. Exigiremos da Previc e dos patrocinadores que cumpram a legislação e as normas editadas pelo Congresso Nacional e órgãos reguladores competentes.
  4. Lutaremos pela volta do Ministério da Previdência Social com o controle da elaboração das políticas de previdência social e complementar e das atividades do CNPC e da CRPC.
  5. Lutaremos contra a aprovação do PLP 268/2016, que reduz a representação dos participantes e entrega a gestão do patrimônio ao mercado financeiro.
  6. Defenderemos a aprovação do PLP 84/2015, que propõe a paridade em todos os órgãos de gestão dos fundos de pensão sem voto de qualidade e aumenta o poder de decisão e fiscalização dos participantes.
  7. Defenderemos a permanência do piso de um salário mínimo para todo benefício previdenciário, o resgate da política de valorização do salário mínimo e a correção dos benefícios superiores a um salário mínimo.
  8. Defenderemos o fortalecimento das prerrogativas do Conselho Fiscal em oposição à interferência de auditorias que usurpem as suas funções e encarecem a administração dos planos de previdência.
  9. Seremos contra a unificação da Previc e da Susep, que procura favorecer o capital financeiro.
  10. Lutaremos contra as decisões da Previc de impedir a posse de dirigentes eleitos, medida que atenta contra a decisão democrática dos participantes.

Os ataques são muitos e se faz necessária a reação firme dos participantes ativos, aposentados e pensionistas, da Anapar, dos sindicatos, associações e entidades representativas, das federações de trabalhadores e das centrais sindicais. É preciso organizar estas lutas em várias frentes e a Anapar deve encabeçar este movimento de defesa da previdência pública e complementar.

Neste ano eleitoral, quando os cidadãos brasileiros escolhem o próximo presidente da república, senadores e deputados, apresentamos estas demandas e reivindicações, para que os candidatos possam se identificar com a nossa causa e se comprometer com o seu atendimento. Todos os participantes ativos, aposentados e pensionistas estarão atentos ao programa dos candidatos e os participantes deverão votar naqueles que assumam compromisso efetivo com a defesa dos direitos e interesses desta comunidade desses milhões de cidadãos brasileiros.

ANAPAR - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PARTICIPANTES DE FUNDOS DE PENSÃO

Fonte: http://www.anapar.com.br/