Um espectro ronda o Brasil: trata-se do golpe de Estado, a tentativa desesperada de derrubar o governo federal que foi democraticamente eleito. Nessa empreitada golpista, sob a eufêmica bandeira do impeachment, setores conservadores da sociedade brasileira têm se mobilizado nos diversos meios de comunicação. Nas redes sociais, pseudo-analistas, de praticamente todas as faixas etárias, estão se transformando em ícones do pensamento conservador. Nesse sentido, podemos citar Kim Kataguiri, o jovem mais retrógrado do Brasil, o “pelego racial” Fernando Holiday e o astrólogo autointitulado filósofo Olavo de Carvalho, guru da direita brasileira.
Não obstante, diversas calúnias sobre a presidenta Dilma Rousseff têm sido exaustivamente compartilhadas no Facebook. Basta uma breve leitura da sessão de comentários da página virtual da Folha de S.Paulo, por exemplo, para constatarmos que as redes sociais estão sendo cada vez mais utilizadas para propagar discursos de ódio. Mesmo matérias que nada têm a ver com o cenário político ensejam enxurradas de ofensas ao PT e à presidenta. Conforme já apontamos em outro artigo, “dê um mouse e um teclado para um sujeito intolerante e verá até onde pode chegar a ignorância humana”.
Por sua vez, mais discreta do que os “revoltados online”, porém não menos golpista, a grande mídia também vem contribuindo na tentativa de derrubar a presidenta, seja na seletividade de notícias sobre corrupção, na manipulação de dados estatísticos, no superdimensionamento da atual crise econômica, na personificação dos problemas brasileiros na figura de Dilma Rousseff ou na produção de infográficos que visualizam uma suposta realidade política após a deposição da presidenta.
Desigualdades estratosféricas
Também é importante destacar o bombardeio ideológico sofrido pelo atual governo presente nas colunas ultraconservadoras de publicações como Veja e Folha de S.Paulo, nos comentários raivosos dos articulistas políticos das principais emissoras de televisão (Carlos Lacerda seria considerado dócil se vivesse nos dias atuais), nos conteúdos dos programas humorísticos “politicamente incorretos” e nas falas dos “especialistas” (acadêmicos não reconhecidos pelos seus pares, mas que expõem na mídia suas ideias preconceituosas travestidas de “análises científicas”).
Evidentemente, o presente artigo não pretende defender o governo (diga-se de passagem, tratar-se-ia de uma tarefa extremamente controversa), mas preconizar pela conservação dos mínimos preceitos democráticos duramente conquistados pela sociedade brasileira. Em um país que passou por séculos de escravidão, vice-campeão mundial em concentração fundiária (só perdemos para o vizinho Paraguai) e marcado por estratosféricas desigualdades em todos os âmbitos, é preciso que os setores progressistas se levantem e denunciem quaisquer tipos de manobras que possam representar retrocessos políticos, econômicos e sociais.
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Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG