Em apenas um ano aumentou em 2 milhões o número de brasileiros que vivem na linha de pobreza. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção era de 25,7% em 2016 e passou para 26,5% em 2017. A variação significa que o número de pessoas que sobrevivem com R$ 406 por mês passou de 52,8 milhões para 54,8 milhões.
Os dados, divulgados na última quarta-feira (5), mostram também aumento da extrema pobreza, quando a renda mensal é inferior a R$ 140, de acordo com a linha proposta pelo Banco Mundial. Em 2016, 13,5 milhões (6,6% da população) estavam nessa faixa. Em 2017, esse índice saltou para 7,4%, ou seja 15,2 milhões vivendo em extrema pobreza.
No Rio de Janeiro, o percentual subiu de 18,5% para 19%, com 3,1 milhões na linha de pobreza. No Sudeste, o percentual de pessoas abaixo dessa linha subiu para 17,4% da população, abarcando 15,2 milhões de pessoas. No Nordeste, 44,8% da população estava em situação de pobreza, o equivalente a 25,5 milhões de pessoas.
Mulheres, negros e pardos
Entre negros ou pardos, 13,6% estavam entre os 10% da população com os menores rendimentos. No outro extremo, porém, apenas 4,7% deles estavam entre os 10% com maiores rendimentos. Já entre os brancos, 5,5% integravam os 10% com menores rendimentos e 16,4% os 10% com maiores rendimentos.
Documento é síntese de dados sócio-econômicos do Brasil nos últimos anos (Divulgação/IBGE)
A análise por restrição de acesso a bens em múltiplas dimensões complementa a análise monetária e permite avaliar as restrições de acesso à educação, à proteção social, à moradia adequada, aos serviços de saneamento básico e à internet.
Nos domicílios cujos responsáveis são mulheres negras ou pardas sem cônjuge e com filhos até 14 anos, 25,2% dos moradores tinham pelo menos três restrições às dimensões analisadas. Esse é também o grupo com mais restrições à proteção social (46,1%) e à moradia adequada (28,5%).
Crise e impeachment
Em entrevista ao Programa Brasil de Fato, o diretor da Associação de Trabalhadores do IBGE, Luiz Almeida Tavares, afirmou que a pesquisa é um somatório de índices dos últimos anos. Segundo o analista, esses índices se tornaram preocupantes com a crise internacional do capitalismo em 2008 e pioraram após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
“Com o impeachment, esses números se acentuaram porque foi tirado do trabalhador o direito amplo de políticas públicas. A crise da saúde pública, a falta de saneamento e de programas de habitação, a falta de boas escolas, tudo converge também para a questão da cor. Mulheres, pretos e pardos são os que mais sofrem”.
Para erradicar a pobreza, o estudo apontou que seria necessário investir R$ 10,2 bilhões por mês na economia, ou garantir R$ 187 por mês a mais, em média, na renda de cada pessoa nessa situação. A análise demonstra que não só a incidência da pobreza aumentou, mas também a intensidade, já que em 2016 esse valor era de R$ 183 a mais.
O analista da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, Leonardo Athias, indica que, além de políticas públicas do governo, a melhora nas condições do mercado de trabalho é um dos caminhos que podem contribuir para a redução da pobreza: “ter oportunidades, reduzir a desocupação e aumentar a formalização têm obviamente uma série de efeitos que permitem as pessoas saírem dessa situação”.
Fonte: Brasil de Fato