A privataria continua e os lobistas já não precisam esperar para serem atendidos nos gabinetes da Anatel, ministério das Comunicações e Palácio do Planalto. A Telegang já tem pronta a solução para a Oi, o maior fiasco da história empresarial brasileira: o fim do sistema de concessões públicas e a doação dos bens reversíveis. Ou seja, a conta desse bacanal financeiro vai ser empurrada para o público.
Don Corleoni já se reuniu com os Tataglias e os Barzinis para colocar tudo em bons termos. Em reunião com as famílias, foi pedida agilidade no Senado Federal para a aprovação do projeto de lei que revisa os modelos de concessão das telecomunicações. A proposta já passou pela Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) do Senado e pela Câmara dos Deputados e está quase na bica para ser aprovada. A proposta prevê a transformação das atuais concessões de telefonia fixa em autorizações, em troca de investimentos das operadoras no setor. O projeto também permite incorporação de bens reversíveis ao patrimônio das empresas.
O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), não tem o mínimo pudor em falar no assunto, assim como Juarez Quadros, o novo chefe do conclave de lobistas, aproveitadores e oportunistas que se chama Anatel. Os dois deixaram sub-entendido que a falência da Oi é uma questão de tempo, melhor pensar agora em uma solução de mercado, ou seja, a sua doação ao primeiro abutre que aparecer. Mas tem que ser um abutre generoso que saiba reconhecer e valorizar aqueles que produziram a carniça.
O resultado da audiência do dia 24, quando a Justiça vai analisar se encerra ou não a recuperação judicial da Oi, pode acelerar o processo. Caso a recuperação judicial seja encerrada, a empresa vai oficialmente à falência ou em busca da chamada solução de mercado, que é o esperam os vendilhões. Nesse contexto, com a empresa à beira do precipício, as multas que a empresa sofreu da Anatel, que já somam R$ 20 bi (um terço da dívida da empresa), é o empurrãozinho que falta. De posse dos 4 ases na manga, Kassab afirmou: "As multas existem e o seu valor é inegociável, porque elas são recursos públicos. Ninguém no governo pode abrir mão de recursos públicos. O TCU pode nos ajudar, de uma maneira mais ampla, para que elas sejam convertidas em investimento, mas jamais perdoadas”, declarou Kassab. Nos ajudar? Nós, quem?
Está pronto o script e a mis-em-scene. A Oi e os bens reversíveis são doados, o novo comprador não será constrangido a cumprir as obrigações de universalização e qualidade da concessão pública e todo mundo enche a burra de dinheiro, assim como estão garantidos os recursos para as campanhas eleitorais de 2018, dos Corleonis, dos Tataglias e dos Barzinis. Vale sempre lembrar o tamanho do butim. A Oi tem receita líquida anual de 30 bilhões, detém 34,4% da participação do mercado de telefonia fixa e é a quarta posicionada no segmento de celulares, com 18,6%.